Bate-pé caipira no compasso da família Fernandes

por Dandara Morais

[caption id="attachment_384" align="alignleft" width="900"]Catireiros do Araguaia Catireiros do Araguaia[/caption]“Não é necessário fazer teste de DNA, todos nascem batendo pés e palmas”Barra do Garças – A catira ganhou o gosto popular e tomou a cidade em forma de poesia; o sentimento, a cultura e a labuta do homem do campo são levados à compreensão das famílias urbanas. Apesar de toda a variedade cultural e rítmica que permeia a música brasileira, a moda de viola é, sem dúvida, a expressão musical mais típica do caipira.A história dos Catireiros do Araguaia começa a ser escrita em 1959, com o casamento dos cantores Orlando Fernandes, que na época cantava com seu irmão Zezinho, hoje conhecido como Zé do Cedro e Joana de Araújo, que cantava com a Neide, sua prima, e o Nico, o Cacique da dupla Cacique e Pajé.“Foi amor à primeira vista”, Joana Araújo Fernandes, 72 anos, aposentada conta que conheceu seu esposo, Orlando Fernandes, em 1958, num espetáculo de circo. Seis meses depois resolveram se casar.Após o casamento surge, então, a dúvida, continuar cantando em busca de sucesso e fama ou criar família? Pouco tempo depois Joana fica grávida de sua primeira filha. Joana e Orlando continuam cantando, por Monte Aprazível e região, agora aonde iam levavam Vera, a primogênita. Joana conta que em 1960, Vera ainda pequenina já batia os pezinhos, a cultura estava no sangue.maxresdefault (1)Lá por volta de 1974, Seu Orlando é chamado para cuidar de uma fazenda em Araguaiana, interior de Mato Grosso. Ele vem e traz toda a família, naquele momento ele, dona Joana e mais seis filhos. Em Barra do Garças – MT ficam conhecendo  um dos desbravadores da região, Valdon Varjão (1923 – 2008), que ajudou e incentivou a criação do grupo Catireiros do Araguaia.O grupo Catireiros do Araguaia cresce conforme a família, hoje são 57 pessoas tocando, cantando e dançando catira, dona Joana diz: “Optamos por criar família, tinha a possibilidade de ter fama, continuar só na cantoria, ganhar dinheiro com isso, mas nós preferimos, com a graça de Deus, criar a nossa família. Hoje ao invés de sermos só nós dois, somos 57 pessoas, e todos dançam catira.”

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A organização do grupo é patriarcal, Seu Orlando e dona Joana estão à frente; mas  hoje, o professor Otamiro Araújo Fernandes, 44, ajuda a coordenar o grupo. Otamiro comenta que esse modelo tem dado certo, são 54 anos de tradição familiar. “Meus pais impuseram na educação a questão cultural e religiosa, e funcionou, criaram nove filhos e ainda conseguiram que esta bandeira fosse passada de geração para geração”, observa. Assim como ele, todos os filhos têm outra profissão, mas o Catireiros do Araguaia esta em primeiro lugar na vida deles.Catireiros do Araguaia é reconhecido nacionalmente, em 1980 se destacou dos demais grupos de catira por ser o primeiro a ter participação feminina na dança. Otamiro conta que, com a diversidade musical que tomou o país, viver de música é impossível se você não se render ao mercado. Então, a família Fernandes vive uma luta constante pra levar por onde passa a tradição e a cultura dos catireiros.

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Histórias ganham vida nas mãos de Dona Joana

A catira é uma dança ligada à religião e ao costume do homem do campo, era a forma com que as pessoas da roça comemoravam um dia de trabalho produtivo. Após os mutirões organizados para plantar, colher, roçar, a festa estava garantida. Dona Joana ressalva “a catira é uma dança popular, é uma dança que veio lá do meio do mato, do mutirão do meio da roça, as pessoas trabalhavam o dia inteiro e quando era noite não era baile, era moda de viola e catira a noite inteira” conta.Em sua trajetória, o grupo Catireiros do Araguaia tem se apresentado em diversos estados brasileiros: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Tocantins, São Paulo e Distrito Federal. Em 2010 foram premiados no Voa Viola- Festival Nacional de Viola, com a canção Araguaia Presente de Deus, de composição de Joana Fernandes. No palco, toda a família reunida, pais, filhos, netos e bisnetos levando a tradição e a cultura dos Catireiros do Araguaia.Fotos: Muryllo Simon / Arquivo
 
publicado por 100porcentoloucospeloaraguaia às 01:46