Poucos cidades do Brasil podem ostentar um referencial tão rico e diversificado como o de Barra do Garças e região. Muitos dos que nasceram e moram aqui eventualmente não têm noção da nossa importância no contexto da História do Brasil.A partir dos bandeirantes nos séculos 16 e 17, o caminho para se chegar a lugares estratégicos nos sertões do Centro-Oeste, inclusive ao conteúdo da lenda na Mina dos Martírios, incluiu passagens e paradas em Barra do Garças.Nessa mesma trilha o Marechal Rondon, o bandeirante do século 20, que espalhou linhas telegráficas por milhares de quilômetros para desbravar a trilha do desenvolvimento que acompanhou essas linhas, usou Barra do Garças (na época ainda distrito ou povoado de Araguaiana de Nossa Senhora da Piedade), para os intervalos entre suas idas e vindas.pontesBarraRondon coroou sua nobre e árdua missão ao domesticar com diplomacia e humanidade milhares de índios, que o consideravam um pai (O Pai Branco). “Morrer sim, matar nunca” era a sua divisa...A mesma competência não tiveram os padres salesianos, que embora com toda abnegação para catequizar e evangelizar, os que vieram pouco depois de Rondon, alguns foram até sacrificados pelo índios, como os missionários padre João Fucks e padre Cobalchini, hoje sepultados em Araguaiana, onde era a sede da missão salesiana  entre os anos 40 e 50.Essa herança de sacrifícios dos heróicos missionários foi a semeadura de um gigantesco trabalho desenvolvidos pelos mestres, clérigos e leigos que enriqueceram a nossa educação e a nossa cultura, comprovado pelos inúmeros João Bosco, Auxiliadoras e Domingos Sávios, que conhecemos em grande parte de nossas famílias, escolas, capelas e paróquias. Os maiores frutos dessa missão estão em Barra do Garças, com extensa rede assistencial e educacional da Missão Salesiana.Pela inabilidade com etnias desconhecidas, também tiveram dificuldades com os índios, os bandeirantes irmãos Villas Boas, que mesmo diante dessas e outras grandes barreiras, partiram de Barra do Garças, desbravaram e construíram o caminho do Xingu, em vasto território de dezenas de etnias.Essa epopéia foi mostrada recentemente em três episódios pelo Fantástico, na Rede Globo, mostrando nas reportagens um mapa com Barra do Garças em destaque. Foi a reprise moderna dessa grande aventura iniciada por Barra do Garças.avMinistroJoaoAlbertoOutro referencial histórico que chamou atenção da imprensa mundial, desde o desaparecimento do coronel inglês Percy Harrison Fawcett, nos anos 20, foram as conquistas do Roncador. Fawcett veio em busca do continente perdido da Atlântida que teria submergido quando o Centro Oeste era mar (talvez por alterações geológicas no Dilúvio).Fawcett também passou por Barra do Garças e isso está comprovado pelas inúmeras fotos em seus livros das nossas serra e especial a da santa de Vale dos Sonhos.O escritor Arthur Conan Doyle, renomado pela sua criação do personagem Sherlock Holmes, que era amigo de academia literária de Fawcett em Londres, escreveu alguns livros ilustrando sobre a nossa região, inclusive a curiosa obra ainda disponível O Mundo Perdido.Os escritos de Fawcett revolucionaram a imprensa européia e muitas expedições vieram nos rastros dele, que misteriosamente desapareceu em algum lugar da Serra do Roncador. Muito se documentou desse pioneirismo místico, inspirando lendas e a maioria dos filmes de Indiana Jones. O primeiro filme da série foi locado na região de Barra do Garças, entre os xavantes, na busca da Arca Perdida e da Atlântida. (Harrison Ford ou Harrison Fawcett?).O misticismo e o espírito aventureiro inspirados nos mistérios da Serra do Roncador, que movimentaram  e ainda movimentam a região de Barra do Garças foram mostrados no Globo Repórter, há poucos anos, em documentário fartamente documentado e confirmado por interessante conteúdo.mercadomunicipalbarraO último acontecimento marcante no contexto Roncador foi a South American Treak (expedição na América do Sul) idealizada pelo sobrinho de Fawcett, o professor e escritor Timothy Paterson, coordenada de Fidhorn Fundation, da Irlanda, nos anos 90, que trouxe quarenta pesquisadores de vinte e sete países da Europa e da Ásia, com apoio da ONU e da Rainha Mãe da Inglaterra.Tivemos a honra de acompanhar como guia turístico e histórico essa expedição em muitos lugares da nossa região, nos caminhos de Fawcett mais próximos de Barra do Garças e entre as comunidades de xavantes e bororos.Essa nobre expedição ficou mais de 15 dias realizando pesquisas e filmando, sempre em locais de até 150 km de Barra do Garças, onde retornavam todas as noites para o Toriuá Park Hotel. Nessas andanças a comitiva recolheu peças artesanais e arqueológicas. Pitoresco foi o interesse em guardar (talvez como souvenir) as pulgas que conheceram nas aldeias, pois era um inseto desconhecido para todos.A história recente resumida  de Barra do Garças é muito fascinante, porém não  tanto quanto em  conteúdo e detalhes como ela é sobejamente contada e enriquecida na obra do nosso amado e inesquecível professor, escritor e historiador Valdon Varjão, a quem pudemos cooperar  nas últimas edições, assim como outros membros da Academia de Letras que ele fundou, entre eles Zélia Diniz, Florisvaldo Flores Lopes, Daphnis Oliveira, Edna Capocci, Generoso Rodrigues, Antonio Oliveira Santos, Arquimedes Carpentieri e outros amantes de nossa história.Mais de quarenta livros formam a biblioteca das  obras de Valdon Varjão e ainda estão disponíveis na Academia de Letras, nas escolas e nas biblioteca de todo o Vale do Araguaia e também em São Paulo, Goiânia e Brasília. Toda a sua obra literária foi distribuída gratuitamente.Cabe agora às novas gerações, especialmente àqueles filhos de pioneiros que estão retornando (e também os que permaneceram e prosperam aqui), a maioria profissionais graduados em várias áreas, inclusive em História, Geografia e Letras e os apaixonados por história e misticismo, dar continuidade aos caminhos da história de Barra do Garças, seguindo o modelo de dedicação e sobretudo respeito e gratidão pelos que tombaram, nos últimos séculos e décadas, em tributo ao desenvolvimento de Barra do Garças.rodoviariaBarraAos barra-garcenses atuais, a responsabilidade de zelar e apoiar a preservação da nossa edificante história e deixar para os seus descendentes uma herança semelhante de conquistas e avanços no desenvolvimento social, político, produtivo e espiritual da nossa amada Barra do Garças...Melchíades Mota é graduado em Marketing de Turismo, Estudos Sociais e Ciências da Religião.
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publicado por 100porcentoloucospeloaraguaia às 22:35